sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Pedrosa na Fiocruz, com Lucchesi e Kahlmeyer

Imaginemos duas horas nas quais cores e palavras se misturassem numa mesma paleta, que intuições intelectuais e afetos gravitassem num mesmo ambiente, afinando ânimos e consolidando ideias. Duas horas nas quais a aula se transforma em culto à inteligência e a matéria se transubstancializa em autêntico saber. Uma aula assim só se torna possível se observadas três condições: 1. a acolhida de muitos, 2. a disposição de alguns e 3. a presença de uma generosidade única.

As fotos que se seguem retratam essa combinação de fatores durante a aula que o artista plástico Israel Pedrosa deu – a convite do Professor Marco Lucchesi – no encerramento do curso de Especialização, veiculado ao Projeto Museu da Vida, na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro (29 de agosto de 2011):


Castelo Mourisco, símbolo maior da Fiocruz


Campus da Fiocruz em Manguinhos - RJ 



Marco Lucchesi, Israel Pedrosa e Roberto S. Kahlmeyer-Mertens
nos momentos qua antecederam a aula.

O fraterno diálogo entre Lucchesi e Pedrosa


Marco Lucchesi apresenta Israel Pedrosa para seus alunos e
declara sua afinidade intelectual com o artista e teórico da arte.

“O autor tem todas as características dos maníacos, dos loucos, dos possessos, dos obsessos, dos obsediados, dos obsecados, dos obsessionados com a imensidão de sua racionalidade buscadora, e inquisidora e de sua emoção transfiguradora que o transformam num sábio e artista, às vezes até quase um santo, pois às vezes a miragem e o projeto de que se deixou motivar o levam a orações quase franciscanas de aparente ingenuidade, vale dizer, de pureza que não atemoriza os iluminados.”

Antônio Houaiss. Críticas, depoimentos e notícias.
In: Da cor à cor inexistente. Rio de Janeiro: SENAC Nacional, 2009. p.240.

Pedrosa inicia sua aula falando dos anos de sua educação estética.

“Da cor à cor inexistente é o título do esplêndido livro de Israel Pedrosa, pintor e senhor de sua arte e que alcança dizer o máximo, e bem, com a maior clareza, sobre as teorias da cor, endereçando-se à prática profissional à experiência e à paixão do artista. Um livro para artistas, professores e estudantes de arte, para críticos e curiosos da arte e da pintura (...) Israel Pedrosa, com paixão pelo assunto e responsabilidade profissional, com capacidade excepcional de pesquisador, fez um estudo completo sobre a importância da cor e seus fenômenos interferentes na visão.”

Quirino Campofiorito, idem, p.241.


O pintor fala do convívio com o mestre Cândido Portinari nas décadas de 1940-60

“A vista inventa as cores, ou melhor, a vista metamorfoseia a realidade ao seu modo. E embora isso seja totalmente imaginário, é cientificamente constatável. É como nas narrativas fantásticas de Kafka e Garcia Márquez: nada daquilo existe (...) Esta obra deveria ser utilizada nas aulas de filosofia ou ser convertida em manual para a gente entender as verdades políticas e ideológicas que nos tentam impingir(...) Portanto, retomando o fabuloso livro de Israel Pedrosa, pode-se dizer que entre a cor e a cor inexistente estão todas as cores, sobretudo as imaginárias.”




"Você já reparou que que a cor preta na luz é mais clara que a branca na sombra?"
Com essa saudável provocação de Portinari, Pedrosa lançou-se em suas primeiras especulações cromáticas.

“Carlos Drummond de Andrade em uma de suas poesias indaga: ‘Como é o lugar/quando ninguém passa por ele?/Existem as coisas sem serem vistas?’ (...) Israel Pedrosa é um dos incontestáveis valores intelectuais de nosso país. Seu legado artístico e teórico forneceu subsídios para a criação de novos paradigmas estéticos, contribuições presentes no duradouro êxito de seu Da cor à cor inexistente.”





O artista e teórico da arte desfiou a rede de relações com a co presente em sua pesquisa original.
Segundo ele, a investigação que revelou o fenômeno da "cor inexistente" cobrou-lhe estudos de física teórica e um diálogo com o ensaio sobra a Teoria das cores, de Goethe.

“(...) se tudo é vibração, eu, como amigo de Israel Pedrosa e homem interessado na abertura de horizontes sempre novos ao conhecimento e ao progresso humanos, confesso que estou vibrando – e o digo sem falsa modéstia, pois o mais triste que pode haver neste mundo é ser incapaz de vibrar.”

Geir Campos, idem, p.244.



Israel Pedrosa conta que muito mais do que pesquisa, o estudo da cor demanda
o desenvolvimento de uma acuidade visual.


“(...) Tua contribuição enriquece e renova a paleta (talvez considerem anacrônico mencioná-la) que se conserva ainda na mão do homem, que o coração comanda. Tens à tua frente um caminho aberto. E tu o percorrerás com a mesma honestidade e modéstia que marcaram tua árdua escalada.”

Iberê Camargo, idem, p.244.




Luminosidade, percentual de cor, vibração, percepção... conceitos que Pedrosa precisou explicar demonstrando algumas experiências de sua pesquisa.

Na foto, Lucchesi acessora Pedrosa durante a demonstração com discos cromáticos.

“Agradável reabrir, de vez em quando, o envelope que trouxe a mensagem de boas-festas do Pintor Israel Pedrosa. E, dentro, comprovar que a cor inexistente existe mesmo. Pelo que se conclui muitas outras coisas ditas inexistentes, lá um dia poderão também existir, e com isto se alcançará não apenas a essência da harmonia cromática, mas a própria essência da harmonia universal.”







Pedrosa recorre às suas serigrafias para demonstrar o fenômeno da cor inexistente aplicado à arte.

Roberto Kahlmeyer-Mertens assiste Pedrosa durante a exposição.


As obras do artista despertam o interesse e entusiasmo dos alunos.

“(...) Pedrosa abriu caminho próprio a partir de uma descoberta a que ele deu o nome de cor inexistente (...). Pedrosa reduz a experiência estética ao aqui e agora das excitações da retina. E isto não impede, mas, pelo contrário, propicia uma tal intensificação do campo visual, que nos termina por desencadear uma carga de impacto e, por um instante que seja, nos fascina”.

Ferreira Gullar, idem, p.245.


Israel Pedrosa notou que por mais que desse cursos regularmente para difundir as ideias relativas à cor inexistente, havia a dificuldade de compreensão do fenômeno do público das artes. Essa falta de pré-requisitos Pedrosa procurou sanar escrevendo Da cor à cor inexistente.

Com Da cor à cor inexistente, Israel Pedrosa foi premiado pelo Instituto Thomas Mann na Alemanha.

Por causa do êxito de Da cor à cor inexistente, Israel Pedrosa forneceu acessoria a diversas emissoras de TV (no Brasil e na Alemanha) na época de implantação da TV à cores.
Este livro "nascido diante do cavalete" também rendeu-lhe o convita para coordenar a equipé que escrevia o verbete "cor", na Enciclopédia Mirador/Britânnica do Brasil.


“Excelente o discurso que Israel Pedrosa pronunciou por ocasião da reabertura do Museu Antônio Parreiras. Simples, objetivo, esse ilustre mestre de tintas, dos maiores do Brasil de hoje, fez o retrato 3 x 4 do fluminense Parreiras com inigualável precisão. Nem uma palavra a mais, nem uma a menos, Israel estava em dia de
Capela Sistina”.
 
 

Ao fim da aula, Marco Lucchesi agradeceu a participação do "filósofo da cor" em seu curso

  Pedrosa em um gesto amistoso resolveu sortear os livros entre os alunos presentes.

“(...) A boa verdade é que a sua condição de filósofo da cor assegura o título de pintor das ideias, de artista da renovação, de renovação no processo da arte (...) Saudamos, igualmente, sua obra escrita, notadamente os estudos de 1968, quando veio a público o que poderíamos talvez denominar Teoria e prática
do mistério da cor (...)”.

Marcos Almir Madeira, idem, p.246.



Diversos alunos foram agraciados com os livros com o conteúdo da aula

Também uma serigrafia do artista foi sorteada.

Pedrosa chegou a autografar livros

“(...) o ensaísta rigoroso e sutil caminhou com a mesma verdade e com a mesma demanda em suas Dez aulas magistrais. Pedrosa ultimou aqui sua genealogia. Homenagem a outros que vemos a si mesmo (...) Não sei de uma inquietação e de uma perfeição que convivam de modo tão harmonioso no mesmo ateliê, no misterioso refúgio de Israel, laboratório químico e teatro alquímico, buscando a clara geometria das coisas, em seus diálogos noturnos (...)”

Marco Lucchesi, idem, p.247.



Após a aula, o clima foi de descontração, contentamento e gratidão mútua.

Os professores Israel Pedrosa, Roberto Kahlmeyer-Mertens, Marco Lucchesi e a secretária Chistina Rivas



Fotos do grupo

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